Dicen que los temas en la literatura son solamente tres o cuatro o cinco, pero quizás es solo uno: pertenecer. Todos los libros pueden leerse en función del deseo de pertenecer.
Faço parte da estatística de pessoas que adiam projetos pessoais por tentar encontrar um combo de timing, disposição e ousadia perfeitos. Ou, no meu caso, uma quantidade mínima de leituras que de alguma forma justifiquem eu dar a cara a tapa por algo que eu faço só porque gosto.
No dia 15 de maio, faço 30 anos - essa idade que parece esboçar algum tipo de amadurecimento. E acordei num sábado de manhã com uma ideia de projeto.
A leitura sempre foi um pilar de quem eu sou, e recentemente cheguei mais perto do porquê. Me fascina conhecer a realidade do outro para além da materialidade dos meus próprios sentidos. Poder conhecer outras possibilidades de vida que não a minha. Permitir alcançar outras experiências para além do que eu consigo através da minha corporalidade e do meu tempo.
Junto da literatura, isso também ecoa na minha profissão, sustentando boa parte de quem sou. O olhar para o outro é pressuposto da comunicação. E quando adolescente sentia que, para ser capaz de fazer isso decentemente, precisava moldar uma caixa de referências, ultrapassando listas infinitas de livros e filmes que tinha que conhecer.
Isso foi sempre muito forte, até que deixou de ser. Desde que terminei o mestrado, cinco anos atrás, me sinto flutuando em meio a um bilhão de possibilidades de consumo de arte, engatando leituras de forma meio aleatória na minha zona de conforto. Problema nenhum em fazer isso, mas só pareço ter aceitado que um certo período de formação acabou, mesmo sem achar que cheguei aos pés do que gostaria de conhecer.
Então, no fatídico sábado de manhã, acordei com a ideia de reorganizar o que ficou pelo caminho. Usar o marco dos 30 anos como forma de testar a maturidade dos meus gostos e criar novas referências para olhar o que é contemporâneo. Esse é o ponto-chave do projeto: ampliar meu rol de referências com coisas que foram me escapando. 30 livros para os 30 anos.
Algumas regras básicas para ajudar no planejamento da maratona:
Um livro por semana, 30 livros no total;
Sessão de crítica com o André depois de terminar;
Ler e/ou assistir conteúdos relevantes relacionados;
Escrever uma newsletter a cada três livros;
Posso me dar ao luxo de pausar se eu quiser ler outra coisa no meio, ou se a vida acontecer e eu não conseguir ler um por semana.
Como não poderia deixar de ser, o André é parte estrutural do projeto, da curadoria à revisão da newsletter. No dia que tivemos essa ideia, levantamos com nossas canecas de café e decidimos os cinco primeiros livros. São eles:
Desonra, J. M. Coetzee
O Náufrago, Thomas Bernhard
A Vontade Radical, Susan Sontag
O Aleph, Jorge Luis Borges
Figurações, Sylvia Molloy
Mais do que qualquer outro critério, a curadoria é e será extremamente baseada em como foi que eu não li isso antes. Dostoiévski e Tolstói, Maria Carolina de Jesus e Mário de Andrade, Philip Roth e Patti Smith, ensaio, poesia, teatro. Tudo que pode configurar como uma leitura desse tempo.
E por que me expor, eu me pergunto o tempo todo. Por que não fazer isso para mim e ficar feliz com o resultado.
A resposta está em Tema libre, ensaio do Alejandro Zambra que empresta o nome a essa newsletter, e que significa tanto para mim:
Escrever é ver-se em meio a uma multidão. E uma das poucas coisas que tenho realmente claras é que sou parte dessa multidão e não quero estar fora. Que pertenço e quero pertencer.
Por meio da literatura, eu pertenço a essa multidão. E minha forma de retribuir esse sentimento é compartilhar o que fez com que me sentisse assim para, quem sabe, trazer outras pessoas para essa multidão também.
De eso escribimos cuando nos dan tema libre, y también cuando creemos estar escribiendo sobre el amor, la muerte, los viajes, las moscas, los telegramas o las maletas con ruedas giratórias. De eso hablamos siempre, en serio y en broma, en verso y en prosa: de pertenecer.
Na próxima news, as primeiras três leituras: Desonra, O Náufrago e A Vontade Radical. Hasta luego!